terça-feira, 8 de setembro de 2015

Frutos da meditação da Paixão de Jesus Cristo

1. O amante das almas, o nosso amantíssimo Redentor, declarou que não teve outro fim em vir à terra fazer-se homem, senão acenter fogo de santo amor nos corações dos homens: Ignem veni mittere in terram, et quid volo, nisi ut accendatur? (Luc. XII, 49). E, ó, que belas chamas de caridade ele acendeu em tantas almas, especialmente com as penas que ele escolheu padecer na sua morte, a fim de nos demonstrar o amor imenso que por nós conserva! Ó quantos corações felizes, nas chagas de Jesus, como em tantas fornalhas de amor, inflamaram-se tanto amando-o que não recusaram consagrar-lhe os bens, a vida e a si mesmos totalmente, superando com grande coragem todas as dificuldades que surgiam-lhes na observância da divina lei, por amor daquele Senhor que, sendo Deus, quis sofrer tanto por amor deles! Foi justamente esse o conselho que nos deu o Apóstolo para não errar, e para correr depressa no caminho do céu: Recogitate eum, qui talem sustinuit adversus semetipsum a peccatoribus contradictionem, ut ne fatigemini animis vestris deficientes (Hebr. XII, 3).
2. Por isso o enamorado S. Agostinho, à vista de Jesus pregado na cruz, assim docemente rezava: Scribe, Domine, vulnerata tua in corde meo, ut in eis legam dolorem et amorem: dolorem ad sustinendum pro te omnem dolorem: amorem ad contemnendum pro te omnem amorem [1]. Escreve, dizia, ó meu amantíssimo Salvador, escreve no meu coração as tuas chagas, a fim de que nelas eu leia sempre a vossa dor e o vosso amor; sim, porque tendo diante dos meus olhos a grande dor que vós, meu Deus, sofrestes por mim, eu sofrerei com paz todas as penas que me occorrerem padecer; e à vista do vosso amor, que me declarastes sobre a cruz, eu não amarei nem poderei amar nada além de vós.
3. E de onde os santos tiraram ânimo e força para sofrer os tormentos, os martírios e as mortes, senão das penas de Jesus crucificado? S. José de Leonessa, capuchinho, vendo que os outros queriam amarrá-lo com cordas por um corte doloroso no corpo, que lhe devia dar o cirurgião, ele pegou nas mãos o seu Crucifixo e disse: "Que cordas, que cordas! eis os meus ligames: este meu Senhor pregado por meu amor; Ele com as suas dores me constrange a suportar todas as penas por seu amor". E assim sofreu o corte sem se lamentar [2], vendo Jesus, que, tantum agnus coram tondente se obmutui, et non aperuit os suum (Is. LIII, 7) [3]. Quem poderá dizer que padece injustamente, vendo Jesus, que attritus est propter scelera nostra? (Ibid. 5). Quem poderá recusar obedecer por causa de qualquer incômodo, sendo Jesus factus obediens usque ad mortem? (Philip. II, 8). Quem poderá recusar as ignomínias, vendo Jesus tratado como louco, como rei de burla, como vilão, zombado, cuspido na face e levantado a um patíbulo infame?
4. Quem poderá, pois, amar outro objeto senão Jesus, vendo-o morrer entre tantas dores e desprezos, a fim de cativar a si o nosso amor? Um devoto solitário pedia a Deus que lhe ensinasse o que poderia fazer para amá-lo perfeitamente; revelou-lhe o Senhor que, para chegar ao seu perfeito amor, não havia exercício mais apto do que meditar amiúde a sua Paixão [4]. Chorava S. Teresa e se lamentava de alguns livros que lhe haviam ensinado a deixar de meditar a Paixão de Jesus Cristo, porque isso podia ser um impedimento à contemplação da Divindade; por isso a santa exclamava: "Ó Senhor da minha alma, ó meu Bem, Jesus crucificado, nunca me lembro dessa opinião sem que me pareça ter feito uma grande traição. E é possível que vós, Senhor, me fosses impedimento a um bem maior? E donde me vieram todos os bens, senão de vós?" E então ajuntou: "Vi que para contentar a Deus, e para que nos faça grandes graças, ele quer que isso passe pelas mãos dessa humanidade sacratíssima, na qual disse que sua divina majestade punha suas complacências" [5].
5. Por isso dizia o P. Baldassarre Alvarez que a ignorância dos tesouros que temos em Jesus, era a ruína dos Cristãos; por isso a meditação da Paixão de Jesus Cristo era a sua mais dileta e usada, meditando em Jesus principalmente três dos seus padecimentos: a pobreza, o desprezo e a dor; e exortava os seus penitentes a meditar frequentemente a Paixão do Redentor, dizendo que não pensassem ter feito nada, se não chegassem a ter sempre fixo no coração Jesus crucificado [6].
6. Quem quer, ensina S. Boaventura, crescer sempre de virtude em virtude, de graça em graça, medite sempre Jesus apaixonado: Si vis, homo, de virtute in virtutem, de gratia in gratiam proficere, quotidie mediteris Domini Passionem. E ajunta que não há exercício mais útil para tornar uma alma santa, que considerar amiúde as penas de Jesus Cristo: Nihil enim in anima ita operatur universalem sanctificationem, sicut meditatio Passionis Christi [7].
7. Além disso dizia S. Agostinho (Ap. Bernardin. de Bustis) que vale mais uma só lágrima derramada por memória da Paixão de Jesus, que uma peregrinação a Jerusalém e um ano de jejum em pão e água [8]. Sim, porque para tal fim o nosso amante Salvador padeceu tanto, para que nós pensássemos nisso; porque, pensando nisso, não é possível não se inflamar no divino amor: Caritas enim Christi urget nos, diz S. Paulo (II Cor. V, 14). Jesus é amado por poucos porque poucos são aqueles que consideram as penas que ele padeceu por nós; mas quem as considera com frequência, não pode viver sem amar Jesus: Caritas... Christi urget nos. Sentir-se-á constranger de tal modo pelo seu amor que não lhe será possível resistir e não amar um Deus tão enamorado que tanto padeceu para fazer-se amar [9].
8. Por isso o Apóstolo dizia que ele não queria saber de outra coisa que Jesus e Jesus crucificado, isto é, o amor que ele nos demonstrou na cruz: Non iudicavi me scire aliquid inter vos, nisi Iesum Christum, et hunc crucifixum (I Cor. II, 2). E na verdade, de que livros podemos nós aprender a ciência dos santos, que é a ciência de amar a Deus, senão de Jesus crucificado? O grande servo de Deus Frei Bernardo de Corlione, capuchinho, não sabendo ler, seus religiosos queriam instruí-lo; ele foi aconselhar-se com o Crucifixo, mas Jesus lhe respondeu da cruz: "Que livros! que ler! Eis que eu sou o teu livro, onde sempre podes ler o amor que eu tive por ti" [10]. Ó grande ponto para se considerar por toda a vida e por toda a eternidade: um Deus morto por nosso amor! um Deus morto por nosso amor! Ó grande ponto!
9. Um dia, S. Tomás de Aquino, visitando S. Boaventura, perguntou-lhe que livro mais ele usava para registrar tantas belas doutrinas que ele havia escrito. S. Boaventura mostrou-lhe a imagem do Crucifixo, toda enegrecida por tantos beijos que lhe havia dado, dizendo: "Eis o meu livro, do qual tiro tudo o que escrevo; ele me ensinou todo o pouco que eu sei" [11]. Todos os santos aprenderam a arte de amar a Deus pelo estudo do Crucificado. Frei João de Alvernia todas as vezes que olhava Jesus pregado, não podia conter as lágrimas [12]. Frei Tiago de Tuderto, ouvindo ler a Paixão do Redentor, não só chorava abundantemente, mas irrompia em gritos, estupefato pelo amor do qual se sentia inflamado pelo amado Senhor [13].
10. O P. S. Francisco, neste doce estudo do Crucificado, tornou-se aquele grande serafim [14]. Ele derramava lágrimas continuamente ao meditar as penas de Jesus Cristo, tanto que quase perdeu a vista [15]. Uma vez, encontrado a gritar chorando, perguntaram-lhe o que tinha. "E que quero ter?, respondeu o santo, choro as dores e as afrontas dadas ao meu Senhor; e cresce, acrescentou, a minha pena ao ver os homens ingratos, que não o amam e vivem esquecidos dele" [16]. E todas as vezes que ouvia balir um cordeiro sentia-se ferido de compaixão, pensando na morte de Jesus, Cordeiro imaculado, exangue na cruz pelos pecados do mundo [17]. E por isso o enamorado santo não sabia exortar com maior urgência outra coisa aos seus irmãos, senão recordar-se frequentemente da Paixão de Jesus [18].
11. Eis, portanto, o livro, Jesus crucificado, que, se ainda for por nós lido amiúde, nós ficaremos, de uma parte, bem amaestrados a temer o pecado, e de outra, inflamados a amar a um Deus que tanto ama, lendo naquelas chagas a malícia do pecado que reduziu um Deus a sofrer uma morte tão amarga para satisfazer a divina justiça; e o amor que nos revelou o Salvador ao querer padecer tanto para fazer-nos entender o quanto ele nos amava.
12. Rezemos à divina mãe Maria, a fim de que nos obtenha do Filho a graça de entrar também nós naquelas fornalhas de amor onde ardem tantos corações enamorados: a fim de que, ficando aí consumados todos os nossos afetos terrenos, possamos também nós queimar naquelas felizes chamas que tornam as almas santas na terra e bem-aventuradas no céu. Amém.


(O Amor das Almas, S. Afonso de Ligório.)

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