É sempre benéfico ter presentes os ensinamentos dos Papas sobre o perigo do Liberalismo que nos cerca a todo instante.
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Não é suficiente estar na Tradição para estar isento do perigo de pactuar com o Liberalismo.
Escutemos o santo e grande pontífice, que foi Pio IX, falando aos peregrinos franceses da diocese de Nevers em 1871:
“Meus queridos filhos, é preciso que minhas palavras vos expressem o que vai dentro de meu coração. O que aflige vosso país e impede que mereça as bênçãos de Deus é a mistura de princípios.
Eu o direi e não me calarei; o que receio não são todos esses miseráveis da Comuna de Paris, verdadeiros demônios do inferno que se lançam sobre a terra. Não, não é isso; o que receio é essa infeliz política, esse liberalismo católico, que é verdadeiro flagelo. Já o disse mais de quarenta vezes, e repito-o em razão do amor que vos tenho. Sim, é um jogo… Como se diz em francês? Dizemos em italiano altalena. Sim, é justamente essa gangorra o que destruirá a religião. É necessário, sem dúvida, praticar a caridade, fazer o que for possível para reconduzir os que estão extraviados; mas para isso não é necessário concordar com a opinião deles. Mas não quero prolongar meu discurso, minhas forças e minha idade já não mo permitem” (Barbier, Tomo I, Histoire de Catholicisme Libéral et du Catholicisme Social en France, p. 214).
Tal gangorra é uma tentação permanente na Tradição. Não foi justamente tal gangorra o que fez perder a Dom Gérard, a Campos e a tantos outros? Quer-se dialogar com Roma sem se considerarem os avisos de Dom Lefebvre e as lições da experiência, e terminar-se-á cedendo em alguma coisa, para agradar aos homens e não a Deus. E assim se entra na gangorra que inevitavelmente destrói a religião.
Dom Lefebvre e Dom Antônio de Castro Mayer não entraram nesse jogo. E nós tampouco.
É necessário jamais abandonar os princípios, e entre estes estão as condenações feitas pelos Papas, condenações que recaem sobre o Concílio Vaticano II, “o latrocínio do Vaticano II”1, como o chamou Dom Lefebvre.
Não devemos hesitar quanto a isto. Mantenhamos com firmeza o que recebemos e transmitamo-lo aos mais jovens. Tradidi quod et accepi. A doutrina sim, mas não somente a doutrina. A experiência também. A de São Pio X e de Dom Lefebvre, que perceberam muito bem o jogo do inimigo. Guardemos o fruto desta experiência e apliquemo-lo à situação atual, pois são os mesmos falsos princípios e o mesmo modo de agir que devemos enfrentar enquanto durar esta crise. As últimas canonizações são a prova disso. É uma caridade advertir ao próximo para que não caia na goela do lobo. Que a Fraternidade São Pio X não faça tais acordos, que terminarão por pô-la, de pés e mãos atados, nas mãos dos inimigos do Reino Universal de Nosso Senhor Jesus Cristo. Possa a Fraternidade honrar aqueles que, por sua reação, a preservaram de uma queda sem retorno, queda esta que sempre a ameaça, infelizmente. Ainda que ela não tenha assinado nenhum acordo propriamente dito, a Fraternidade tem-se comportado, porém, como se já o tivesse feito. Ela faz o jogo do inimigo em detrimento de seus filhos, os mais devotados e mais fiéis ao combate da Fé. Até quando ela agirá assim? Até quando será desonrado Dom Williamson pela Fraternidade São Pio X, ele que provavelmente salvou Dom Fellay de um acordo em 2012 escrevendo a carta dos três bispos da Fraternidade aos superiores da mesma Fraternidade? Bem que gostaríamos de ver a obra de Dom Lefebvre restabelecida sobre suas verdadeiras bases. Graças a Deus padres de valor não deixaram que se perdesse a herança espiritual de Dom Lefebvre e resistem ao movimento pró-acordo que se manifesta nos dirigentes da Fraternidade.
Rezemos pelos membros da Fraternidade São Pio X e por nós também. Que quem está de pé se cuide para não cair.
1 “O latrocínio de Éfeso” é a expressão com que ficou conhecido o conciliábulo realizado nessa cidade por bispos que não tinham a doutrina católica, no qual fizeram decretos perniciosos, mas que eles consideravam como se fosse um verdadeiro Concílio Ecumênico da Santa Igreja, apesar de que esta o haja condenado e considerado totalmente nulo.
Fonte: CATÓLICOS RESISTENTES