sábado, 23 de abril de 2016

Menino Jesus, Bom Pastor - Santo Afonso Maria de Ligório

Dizei aos pusilânimes: Tomai ânimo e não temais; eis que vosso Deus trará a vingança e as represálias. Deus mesmo virá, e vos salvará (Is 35,4). Não temas, pois, diz o profeta, já não desconfieis, pobres pecadores. Como podeis temer não serdes perdoados quando o Filho de Deus desce do céu para vos salvar, e com o sacrifício de sua vida paga a Deus o que a sua justa vingança tinha direito de exigir por vossos pecados? Se as vossas ações são insuficientes para aplacar a cólera divina, eis que a aplaca esse Menino que vedes deitado sobre palha, a tiritar de frio, a chorar. Com suas lágrimas Ele aplaca Aquele a quem ofendestes. “Não tendes razão de vos afligir, ajunta S. Leão, por causa da sentença de morte pronunciada contra vós, pois que hoje nasceu-vos Aquele que vos trás a vida”. E S. Agostinho: “Eis um dia de doçura para os penitentes: hoje apagou-se o pecado; que pecador poderia ainda desesperar de sua salvação?” Se não podeis prestar à justiça divina a satisfação que lhe deveis, eis que Jesus a oferece em vosso lugar: começou a fazer penitência por vós nessa gruta, continuará essa obra de caridade durante toda a sua vida, e a consumará na cruz, pregando toda a sua vida, e a consumará na cruz, pregando nela, como diz S. Paulo, o decreto de vossa condenação para o apagar com seu sangue: Cancelando o quirógrafo do decreto que nos era desfavorável, que era contra nós, e o aboliu inteiramente, encravando-o na cruz (Cl 2,14).
Diz o mesmo apóstolo que, morrendo por nós, Jesus Cristo se fez nossa justiça. E isso, explica S. Bernardo, no sentido de que Ele nos lavou de nossos pecados. E com efeito, aceitando por nós as dores e a morte de Jesus Cristo, Deus está obrigado por justiça, em virtude dum pacto entre Ele e o Salvador, a conceder-nos a remissão de nossas dívidas. Aquele que não conhecia o pecado, diz ainda S. Paulo, Deus o fez vítima do pecado, a fim de que sejamos por Ele justos aos olhos de Deus (2Cor 5,21). A inocência mesma tornou-se vítima dos nossos pecados, a fim de que, em virtude de seus méritos, e segundo toda a justiça, tivéssemos direito ao perdão. Eis por que Davi pedia a Deus que o salvasse, não só segundo a sua misericórdia, mas ainda segundo a sua justiça: Livrai-se na vossa justiça (Sl 30,12).

Deus sempre teve um extremo desejo de salvar os pecadores. Já na antiga lei Ele os seguia dizendo: Transgressores dos meus preceitos, entrai em vós mesmos (Is 46,8). Pensai nos benefícios que de mim recebestes, no amor que vos testemunhei, e cessai de ofender-me. Voltai-vos a mim (Zc 1,3), e eu me voltarei a vós para vos abraçar. Vós que sois meus filhos, por que vos quereis perder e condenar à morte eterna? voltai-vos a mim, e vivereis (Ez 21,31).
Enfim a misericórdia divina do Senhor o fez descer do céu à terra, para nos subtrair à morte; assim afirma S. Zacarias: Pelas entranhas da misericórdia do nosso Deus, graças à qual nos visitou do alto o Sol nascente (Jesus) (Lc 1,78). Mas é preciso refletir aqui no que diz S. Paulo: antes que Deus se fizesse homem, Ele era cheio de misericórdia por nós, mas não podia sentir compaixão de nossas misérias, porque a compaixão é um sentimento doloroso, e Deus é incapaz de dor. Ora, segundo o apóstolo, o Verbo Eterno se fez homem, sensível à dor como os outros homens para poder não só salvar-nos mas também ter compaixão de nós: Não temos um pontífice que não possa compadecer-se das nossas enfermidades, mas que foi tentado em tudo à nossa semelhança, exceto o pecado. Ele deveu em tudo ser semelhante a seus irmãos, a fim de ser compassivo (Hb 2,17).
Quão grande é a compaixão de Jesus Cristo para com os pobres pecadores! Disso nos dá uma idéia, tomando os traços daquele bom Pastor que vai à procura da velha desgarrada, e que, depois de achá-la, convida seus amigos a regozijarem-se com ele: Congratulai-vos comigo, porque achei a minha ovelha que se havia tresmalhado (Lc 15,6). Toma-a sobre os ombros e aperta-a a si de medo de tornar a perdê-la.
É por causa dessa compaixão que Ele se representou sob o emblema daquele bom pai que vendo de volta, e prostrado a seus pés, o filho pródigo que o havia deixado, não o repele, mas o abraça, o cobre de carícias e quase fica fora de si de consolação e ternura vendo-o arrependido. Correndo, lançoulhe os braços ao pescoço e beijou-o (Lc 15,20). É essa compaixão que faz que, expulso duma alma pelo pecado, não se afasta, mas permanece à porta de seu coração, em que não cessa de bater por meio de suas graças para nele entrar: Estou à porta, diz Ele, e bato (Ap 3,20). É essa compaixão que o fazia dizer a seus discípulos, cujo zelo indiscreto queria tirar vingan- ça dos que o haviam repelido: Vós não sabeis de que espírito sois (Lc 6,53). Vedes qual é minha compaixão para com os pecadores e desejais vingança? Ide; retirai-vos, porque não estais animados do meu espírito. É essa compaixão enfim que o fez dizer: Vinde a mim todos os que trabalhais e vos achais carregados, e eu vos aliviarei (Mt 11,28).
E de fato, com que ternura esse amável Redentor perdoou a Madalena logo que ela reconheceu suas faltas, e a converteu numa grande santa! Com que bondade perdoou ao paralítico, ao qual restituiu ao mesmo tempo a saúde do corpo! Com que bondade se portou sobretudo para com a mulher adúltera! Os sacerdotes levaram-lhe essa pecadora para que Ele a condenasse. Mas, voltando-se para ela, disse-lhe: Ninguém te condenou?... nem eu te condenarei (Jo 8); isto é: se nenhum daqueles que te trouxeram aqui te condenou, como poderia eu fazê-lo, eu que vim salvar os pecadores? Vai em paz e não peques mais.
Nada temamos de Jesus Cristo; temamos tudo de nós mesmos, de nossa obstinação, se depois de termos ofendido o Senhor, recusarmos obedecer à sua voz, que nos convida à reconciliação. Meditemos estas palavras de S. Paulo: Quem deveria condenar-nos? O Cristo Jesus que morreu... e que continua a interceder por nós (Rm 8,34). Se quisermos obstinarnos no pecado, Jesus Cristo será obrigado a condenar-nos; mas se nos arrependermos do mal que fizemos, que medo havemos de ter? Quem nos há de condenar? Não é o nosso pró- prio Salvador que morreu para não nos condenar? Para perdoar a nós, não quis perdoar a si mesmo, diz S. Bernardo.
Vai, pois, pecador, ao estábulo de Belém, e agradece a Jesus Menino que treme de frio por ti naquela gruta, que geme e chora por ti sobre a palha. Agradece a teu divino Redentor que veio do céu para te chamar e salvar. Se desejas o perdão, Ele te espera no presépio para to conhecer. Apressa-te, pois, pede-lhe perdão e depois não percas a lembrança do amor que Jesus te testemunhou. Não te esqueças, diz o profeta, da imensa graça que te fez tornando-se fiador por ti junto de Deus e tomando sobre si o castigo que havias merecido. Não o esqueças e dá-lhe o teu coração. E saibas que, se o amares, os teus pecados não te impedirão de receber de Deus as mais abundantes e assinaladas graças, com que costuma favorecer as almas que lhe são mais caras. Tudo contribui para o nosso bem (Rm 8,28), diz o apóstolo; mesmo os nossos pecados, ajunta a Glosa. Sim, mesmo a lembrança das suas faltas é útil ao pecador que as chora e detesta, porque assim se torna mais humilde e mais grato para com Deus que o acolhe com tanto amor apesar da sua indignidade. Haverá maior alegria no céu por um só pecador que se converte, disse Jesus, do que por noventa e nove justos (Lc 15,7).
Mas qual é o pecador que causa mais alegria no céu do que um grande número de justos? Aquele que, cheio de reconhecimento para com a bondade divina, se consagra com fervor e sem reserva ao celeste amor, como o fizeram um S. Paulo, uma S. Maria Madalena, uma S. Maria do Egito, um S. Agostinho, uma S. Margarida de Cortona. Para não falar senão desta última, ainda que ela tivesse passado vários anos no pecado, Deus lhe mostrou no céu o seu lugar colocado entre os serafins, e durante a sua vida não cessou de lhe prodigalizar sempre novas graças. Vendo-se tão favorecida por Deus, disse-lhe um dia: “Senhor, concedeis-me tantas graças! Já vos esquecestes das ofensas que vos fiz? — Acaso ignoras, respondeu-lhe o Senhor, a minha promessa de esquecer todos os ultrajes a mim feitos por uma alma que se arrepende sinceramente?” E de fato, é justamente isso que Ele declarou pelo profeta Ezequiel: Se o ímpio fizer penitência, eu não me lembrarei mais de nenhuma das iniqüidades que praticou (Ez 17,22).
Concluamos. Os pecados cometidos pois não nos impedem de tornarmo-nos santos. Deus oferece-nos todos os seus socorros contanto que os desejemos e os peçamos. Que resta ainda? Que nos demos inteiramente a Deus, que lhe consagremos ao menos os dias que ainda nos restam de vida. Eia, pois, que fazemos? Se não avançamos, a culpa é nossa, não de Deus. Façamos com que essas misericórdias e esses ternos convites que Deus nos faz, não sejam para nós uma fonte de remorsos e desespero na hora da morte, quando não tivermos mais tempo de fazer coisa alguma, quando chegar a noite, da qual diz Jesus: Vem a noite, quando ninguém pode trabalhar (Jo 9,14).
Recomendemo-nos à SS. Virgem Maria, que, segundo S. Germano, se gloria de santificar os pecadores mais perdidos obtendo-lhes não só uma graça ordinária de conversão, mas os mais assinalados favores. E Ela bem o pode fazer, pois que todas as súplicas que dirige a Jesus, são pedidos duma mãe a seu filho: “Gozando junto de Deus duma autoridade verdadeiramente material, obtendes aos maiores pecadores exímia graça de perdão”; assim fala o santo Arcebispo. Ela mesma nos anima a recorrermos à sua intercessão com as palavras que a Santa Igreja lhe põe nos lábios: Em meu poder estão os tesouros para enriquecer os que me amam (Eclo 24,25). “Vinde todos a mim, porque em mim, achareis toda a esperança de salvar-vos e de salvar-vos como santos”.
Santo Afonso Maria de Ligório - Encarnação, nascimento e infância de Nosso Senhor Jesus Cristo.

http://paramaiorgloriadedeus.blogspot.com.br/2016/04/menino-jesus-bom-pastor-santo-afonso.html

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